12.2.16

Bienal de Curitiba, 2015

Cloison à lames réflèchissantes (1966), de Julio Le Parc

Antes de começar, queria falar um pouquinho sobre o que foi a edição de 2015 da Bienal Internacional de Curitiba. O evento reuniu exposições, mostras, filmes e propostas de experiências relacionadas ao tema "Luz do Mundo", uma expressão que inspira diferentes interpretações a princípio, mas basicamente envolve a "arte da luz, a arte com a luz, a arte feita de luz e que tem na luz sua matéria, seu material e conteúdo".

Amparando-se no título do romance de Halldór Laxness, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1955, o conceito proposto pela Bienal é, na verdade, uma associação de ideias que envolvem a luz e a sua beleza (assim almejada pelo gênero humano) tanto no sentido literal, quanto no figurado e mesmo espiritual; ora é considerada na qualidade de elemento essencial da natureza, ora de elemento inerente a tudo e a todos, ora de virtudes a serem buscados, e ora até de par indissociável da escuridão, assim como tudo o que esta representa. Me desculpem pelo papo complexo, mas é difícil resumir todas as ideias em poucas linhas...

Apesar da Bienal ter estado em vários espaços na cidade, apenas provei um gostinho do evento na visita ao Museu Oscar Niemeyer, porque infelizmente não tinha muito tempo disponível naquele período e, afinal, foi onde as obras mais populares se concentraram. Acompanhada da minha mãe, lá fomos nós e não tive do que reclamar; aliás, confesso que saí de lá muito admirada e reflexiva, sensações que pouco havia experimentado em visitas ao museu.

Começamos nosso passeio pelas obras com orientações inusitadas. Não poder tirar fotos de algumas delas era o de menos: "tirem os sapatos", "coloquem estes protetores nos pés", "fechem os olhos para entrar". O que está havendo? Seguimos as instruções e os ombros da guia da mostra para nos posicionarmos bem certinho em... Algum outro lugar. "Pronto, abram os olhos devagar".

Untitled (1969), de Doug Wheeler



Era uma sala toda branca e todas as extremidades do ambiente eram arredondadas. Fomos posicionadas bem em frente a um painel retangular iluminado por trás. Ver essa imagem de divulgação e essa descrição simplória que acabei de fazer pode inspirar pouco, se não nada a quem lê, mas é difícil expressar as sensações de estar imerso naquele ambiente: a iluminação deixava o olhar turvo (não me perguntem como) e a forma com que víamos o painel podia dar a impressão de que se estava no dito Paraíso, "entre as nuvens", mas vendo a sua frente um corredor - então, podia ser o Purgatório? -, ou o fundo de algum lugar, caindo e olhando de cima para baixo.

Até a acústica do local era interessante: de início, é um isolamento, mas depois pode-se ter a mesma impressão que a minha mãe teve e pensar que está num avião. Segundo a descrição do site da Bienal, o autor da obra brinca com o conceito "luz e espaço", mexendo com questões como escala, profundidade, infinitude etc. Bom, seja qual for a interpretação, essa obra se revelou um bom cartão de visitas do que a exposição tinha a oferecer. Good job, Doug! ✨

In.visible (2014), de Jeongmoon Choi



Seguindo com o passeio, chegamos a um dos grandes chamarizes da Bienal: Jeongmoon Choi nos deu o prazer de caminhar pelos corredores geométricos de "In.visible", compostos por fios de algodão milimetricamente alinhados. Ainda, dependendo das roupas que se esteja usando, os visitantes podem acabar fazendo parte do conjunto sob a luz ultravioleta, dando um colorido a mais à obra. Com esses elementos, a artista sul-coreana contrapõe técnicas milenares, como a tecelagem tradicional, com a alta tecnologia da "era do laser" e cria a sensação de profundidade.


A propósito, como as câmeras não conseguiram focar muito bem no escuro, não pude usar neste post muitas das fotos que tiramos na visita... Serão poucas fotos, mas garanto que serão bem selecionadas, ok? 😊

Identity Analysis (2003), de Helga Griffiths



Não demorou muito e chegamos aos tão divulgados tubos de ensaio suspensos e fosforescentes de "Identity Analysis"! Se as fotos já impressionam, ver ao vivo é fantástico!


Claro que um pouco da mágica se desfaz vendo de perto, afinal as provetas estão presas a uma rede e os pratos petri formam a base, mas o conceito é muito interessante por si só. Ocorre que os elementos da obra não foram dispostos dessa forma à toa: este é o "nu contemporâneo" da própria Helga Griffiths, afinal tudo ali representa a sua estrutura genética.


Tivemos muita dificuldade em manter o foco das câmeras aqui. É uma pena, porque tiramos muitas apenas para tentar usar algo depois. Inclusive, abusamos de ângulos inusitados, mas ainda assim, não foi possível aproveitá-los... 😭

Ghosts (2014), Lars Nilsson


Depois de um tempo passeando por ambientes escuros, voltamos à "luz" em outro espaço, tudo para talvez submergir à escuridão novamente. Era a vez do conjunto de obras "Ghosts", de Lars Nilsson cujas esculturas de figuras humanas foram responsáveis pela nossa saída reflexiva do museu, tamanha perturbação que nos causou.


A descrição no site da Mostra revela bem o conceito explorado: "O grupo escultórico Fantasmas, de Lars Nilsson, leva-nos de volta ao lado obscuro da civilização que ilumina o passado e joga luz sobre nossa situação social contemporânea. Estas obras oferecem uma representação de como seriam esculturas de figuras humanas se delas fosse retirada a luz. Cada uma é como um corpo negro, um buraco negro, um ponto no espaço de onde toda luz é retirada (...). Em estado de transformação, estas figuras saem das trevas em direção à luz, emergem da forma para a não-forma ou vice-versa".



Eu não posso responder pelas impressões que minha mãe teve, mas particularmente me senti numa posição muito desconfortável de voyeur: um espectador onipresente, mas impotente diante da desgraça alheia ali representada.

E não é a posição que assumimos quando vemos diariamente as desgraças nos noticiários? Ou quando decidimos ignorar as pessoas necessitadas na rua, as ditas "pessoas invisíveis"? Ou quando achamos que não podemos fazer nada pelo sofrimento de entes queridos?




Não são essas pessoas a que assistimos aquelas que estão tentando sair das "trevas em direção à luz"? O que podemos fazer por elas? Desde que assumi essa interpretação, comecei a pensar sobre a minha vida de outro jeito.

Obras de Julio Le Parc


Já na Torre do Olho, encerramos a exposição com as obras de Julio Le Parc, as quais chamaram muito a atenção pela ideia de serem compostas por materiais simples - pregos, parafusos, peças de acrílico, espelhos -, mas, ao projetarem luz em movimento, tornam-se grandiosas.

Continuel Mobile - Sphère rouge (2001)

Uma das obras - ou "alquimias", como o próprio autor prefere assim se referir - de destaque é "Sphére Rouge", um mobile de placas de acrílico pequenas e vermelhas em forma de esfera iluminado por vários spots; como as placas se mexiam ao sabor da inércia, minha mãe ali projetou um coração batendo - quanto a mim, bem... Minha imaginação deve ter ficado lá em "Ghosts", porque não pensei em nada, senão que tinha um efeito bonito... 😝

Lumière Alternée (1966)

O site da Bienal explica melhor o que se pretende com esse tipo de conceito: "Luz e movimento combinam-se para retirar o observador do estado tradicional de imobilidade diante de uma obra e transformá-lo no « espectador total » como o definiu Arnauld Pierre, aquele espectador que é instaurado pelo conjunto de suas faculdades perceptivas, ativas, e intelectuais.

Com efeito, diante de uma obra de Le Parc o observador tem sua emoção convocada (percepção), é chamado a ativar-se diante dela tanto quanto ela se ativa a sua frente (ação), e a refletir sobre o que vê (o raciocínio). O deslumbramento predomina, é verdade, e, com ele, a emoção, primeiro modo de relacionamento do indivíduo com o mundo. Os outros dois modos, o da atividade e o da reflexibilidade, seguem-se".


Outra obra intrigante é Lumière en vibration - Installation (1968): eu nunca testemunhei um terremoto, mas talvez se tenha a mesma sensação de quem já passou por isso ao passear pelo labirinto de cortinas, iluminadas por uma única caixa luminária com motor. Não gravei o vídeo acima (é de uma exposição da obra no MALBA, em Buenos Aires), mas ele mostra bem a sensação lá dentro. Fiquei um pouco atordoada, terminando os poucos metros escorada no tapume da obra; minha claustrofobia mandou lembranças para o Sr. Le Parc.

Red Ahead (2013), de Eliane Prolik

A princípio, a Bienal se encerraria no dia 6 de dezembro, mas devido ao tremendo sucesso de público, o evento foi prorrogado até o dia 14 de fevereiro. Nem todas as mostras da programação original foram mantidas, mas as do Museu Oscar Niemeyer com certeza continuarão expostas até o último dia. Então, não deixem de conferir, sentir e tirar suas próprias conclusões!

Bienal Internacional de Curitiba
De 03.10.2015 a 14.02.2016
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